segunda-feira, 6 de maio de 2013


Conservador, mas sem radicalismoDeputado Anderson Ferreira divide o comando da Comissão de Direitos Humanos com o pastor Marco Feliciano

Publicação: 05/05/2013 10:00 Atualização: 03/05/2013 22:49
Apesar de terem bandeiras semelhantes na Comissão de Direitos Humanos, Anderson Ferreira (E) diverge de Marco Feliciano (D) nos posicionamentos teológicos. Foto: Assessoria/ Divulgação (Assessoria/ Divulgação)
Apesar de terem bandeiras semelhantes na Comissão de Direitos Humanos, Anderson Ferreira (E) diverge de Marco Feliciano (D) nos posicionamentos teológicos. Foto: Assessoria/ Divulgação
Ele é companheiro de bancada (evangélica) e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria (CDHM) da Câmara Federal do polêmico deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP). É pernambucano e está no primeiro mandato como Feliciano. Anderson Ferreira (PR) tem a mesma bandeira em defesa da família, a favor dos mesmos princípios, mas não é rotulado como radical e não está no olho do furacão das críticas como o amigo. Talvez porque pondere cada palavra que diz. Não demonstra ter intenção de agredir, apesar das suas convicções desagradarem a lógica da diversidade sexual e da luta pelos direitos homossexuais cada vez mais latente no cotidiano.

Filho do ex-deputado estadual Manoel Ferreira, que teve sete mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa, e irmão do vereador André Ferreira (PMDB), que segue no terceiro mandato, sendo os dois últimos o mais votado. Cresceu no ambiente político. Tem bom trâmite até entre os que discordam totalmente dos seus posicionamentos, como o deputado federal e ativista gay Jean Wyllys (PSol-RJ). Nos embates da Comissão de Direitos Humanos, por vezes, atua como pacificador, apesar de não retroceder das suas convicções e de gritar e devolver o dedo em riste quando acha necessário. “Vim de um lar político, que me deu know how para lidar com certas coisas”, comenta.

Não é pastor de igreja, não tem as amarras naturais de uma denominação e se orgulha de ter votos de eleitores batistas, presbiterianos, episcopais, neopentecostais, apesar de ser membro da Assembleia de Deus. Em 2010, 48.435 eleitores o escolheram por ser contra o aborto, o casamento homossexual, bem como a adoção de crianças por casais LGBT, a legalização das drogas, de bebidas para menores de idade, a exploração sexual. Com o mandato, segue fazendo o que se propôs e combate cada um desses pontos. Diz que sempre quis fazer parte da Comissão de Direitos Humanos e faz desde o primeiro ano do mandato, inicialmente como membro titular, agora como vice-presidente. 

Caiu em suas mãos a relatoria do polêmico projeto do deputado João Campos (PSDB-GO), chamado de “cura gay”, que pretende sustar dois artigos da resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que “estabelecem normas de atuação para psicólogos em relação à questão da orientação sexual”. Em outras palavras, o psicólogo fica impedido de orientar e realizar a terapia da “reversão da homossexualidade” ainda que o paciente queira. Para Anderson Ferreira, em seu voto, o Conselho Federal de Psicologia “cerceia a independência dos profissionais e o direito da pessoa que procura um psicólogo de receber a orientação profissional conforme a linha que conscientemente buscou”. O projeto está marcado para ser votado na próxima quarta-feira.   

 (Assessoria/ Divulgação)
O que pensa Anderson Gomes

Papel político
Representar um segmento e não ser um despachante de igreja. Sei que os valores que são fundamentados no segmento evangélico, como morais éticos, regem uma sociedade mais ética, mais justa, mais digna, com menos violência. Eu sempre questiono. O evangélico prega o amor ao ser humano, portanto é contra a homofobia, é contra a violência, a marginalidade, faz um trabalho de ressocialização, todos os princípios estão fundamentados nos princípios cristãos. Se reger o mandato baseado na palavra de Deus como regra, você vai lutar por uma sociedade melhor. Quando decidi disputar as eleições, o sentimento que eu tinha era que eu podia ser um agente transformador. 

Polêmica com Feliciano
As acusações contra Marco são sempre em relação aos seus posicionamentos teológicos. Ele nunca citou que um artista negro fez isso ou aquilo. Não discuto com ele posicionamentos teológicos, por que não concordo. Vamos divergir em vários pontos. Não concordo com o que ele acha sobre os africanos e uma série de coisas. Temos a mesma formação, que é a Assembleia de Deus, mas eu respeito posicionamentos de várias denominações. Eu não entro no mérito teológico de Marco Feliciano, agora, sou unânime no posicionamento dele na defesa da família. Porque ele é contra o aborto, o casamento homossexual, o abuso sexual, a legalização das drogas e tudo isso eu também sou.

Relação com Feliciano
Ele é uma pessoa impulsiva, está se adaptando ao mundo político. Antes ele só era pastor. Apesar de estar no primeiro mandato igual a mim, ele não teve criação política como eu. Hoje, depois de toda a polêmica em torno da presidência da comissão, ele está fazendo uma reavaliação da proporção que as coisas tomam quando ele fala. A responsabilidade dele como parlamentar é muito maior do que como pregador. Ele não fala mais só para um grupo específico, como deputado, ele legisla para o Brasil, que é laico com valores diversos. Depois do turbilhão, acredito que ele amadureceu 20 anos e vai servir como a maior lição da vida dele, não para mudar seus posicionamentos, mas para mensurá-los. 

Choque com a sociedade
Por exemplo, sobre a questão da adoção por casais LGBT sou contra, porque não há estudos, já que isso é novo, que avaliem os danos que podem ser causados às crianças. O ser humano tem livre arbítrio, mas, a partir do momento, que interfere na vida de outra pessoa, que é o caso de uma criança que é adotada. Ela é a célula mãe da sociedade. Sociedade esta que, desde a Antiguidade, foi composta pelo homem e pela mulher, não existia um terceiro sexo. A Constituição diz que a família é regida pelas figuras do homem e da mulher  e filho. Os novos grupos existem e não há como ignorá-los mas eles, como minoria, não podem ditar regras para a maioria. Desde pequeno, aprendi que a maioria vence. É ao contrário agora, é? Não. A minoria tem que ser respeitada, aí eu concordo, mas não pode ditar regras. O que o movimento ativista LGBT está querendo é que seus pensamentos sejam maioria. Isso também é radicalismo, beira a intolerância. E qualquer movimento contrário a isso é considerado homofobia.
     
Direitos da comunidade LGBT
Os direitos dos homessexuais já estão assegurados: eles podem ir até a um juiz e conseguem se casar. A pensão por convivência também já é garantida a eles. A liberdade de expressão também, o maior exemplo é a marcha gay. Não posso concordar com algo que fira a família. Não quero sair com meu filho e vê dois caras se beijando.

PL122
Considero que esse projeto castra o direito do heterossexual. Vou explicar porquê: se eu me posicionar contrário ao casamento homossexual, posso ser preso e processado, ou seja, me impede de emitir minha opinião sobre um assunto que não aceito. E cadê a liberdade de expressão? É inconstitucional. A Constituição diz que o casamento só pode existir entre macho e fêmea e, para mudar isso, só há dois caminhos: fazer um plebiscito para saber a sociedade aceita o casamento gay ou fazer uma emenda à Constituição mudando. Por que não fazem?

Projeto 234/2011 de João Campos
Que tipo de psicologia é essa que tenta impedir que o cidadão seja tratado? Entendo que se trata de uma meia dúzia de psicólogos a serviço de ativistas gays, querendo restringir um direito mediante uma resolução, usurpando a competência do Poder Legislativo. Isso é uma usurpação da competência do Legislativo, um abuso do poder regulamentar com graves implicações no plano jurídico constitucional. Se, por um acaso, um homossexual tiver sido abusado na infância e isso tenha gerado nele uma aversão ao sexo oposto, ou simplesmente for um adolescente cheio de conflitos não poderá ser tratado, porque o Conselho de Psicologia tem uma filosofia de que não é para tratar. É infundado.  

Comissão Direitos Humanos e Minoria
Apesar de vice-presidente da comissão, não assumiria a presidência nem que Marco Feliciano saísse, porque, pelo critério de proporcionalidade, a vaga da presidência da CDHM é do PSC. Meu papel na comissão é neutralizar projetos que firam os valores da família, valores que tanto defendi na minha campanha eleitoral, os quais eu acredito. É uma oportunidade de tratar temas abordados pela imprensa. Como jovem, posso ser uma voz que me posicione sobre temas que estão sendo discutidos na minha geração. A criação que tive na minha infância não é a mesma que a dos meus filhos. Tenho medo que esse modernismo e a liberdade exacerbada se transformem em uma sociedade sem rumo e sem respeito ao próximo.

Igreja
O papel da igreja é evangelizar. Ganhar almas para Cristo. Mas, para alguns, tem sido um verdadeiro balcão de negócios. Não dá para misturar política com púlpito de igreja. Não concordo em utilizar o púlpito de igreja em palanque eleitoral, lançando candidatos para ser despachante de igreja. O parlamentar evangélico deve se fundamentar na palavra de Deus. O fato de ser um político que milita no segmento evangélico não me castra o direito de estar aberto a entender certas questões.

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